~/Meus dados são meus

Olá seres dessa realidade distópica, nesse post falarei sobre as motivações e ações que tomei para desvincular meus arquivos e dados pessoais das gigantes que monopolizam as ferramentas de relações sociais e de gerenciamento de arquivos.

Consciência:

Toda vez que tento abordar esse assunto dentro do meu círculo de relações, recorrentemente escuto a frase"meus dados não são importantes" e claro que também já ouvi a seguinte retórica: "apenas criminosos virtuais devem se preocupar com os seus passos na rede de super computadores".

Em primeiro lugar a privacidade é um direito básico regido por lei, quando uma empresa privada ou governo quebra essa regra, estamos tratando de um crime. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 - Art. 8º A garantia do direito à privacidade e à liberdade de expressão nas comunicações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet.

É preciso a consciência que os dados são a nossa representação no mundo digital, somos nossos dados, por isso precisamos cuidá-los. Precisamos mudar as nossas mentalidade e cultura e, como toda mudança, será difícil e dolorosa.

O mundo digital foi sendo inserido de forma muito natural em nosso cotidiano, o que gerou uma falta de preocupação sobre como gerir nossos dados. A exposição indiscriminada de informações pessoais pode trazer muitas consequências desagradáveis, então, entender para quem e, porque estamos fornecendo nosso dado é fundamental.

Fatos:

Para legitimar os motivos que me levaram a tomar ações em defesa da minha privacidade, vou lista aqui alguns fatos recentes da nossa história:

O primeiro acontecimento que gostaria de citar é o caso da empresa Cambridge Analytica, acusada de desviar dados pessoais de usuários do Facebook e usá-los de maneira controversa para manipulação de pessoas em massa, assim elegendo o presidente de ultra direita norte-americano Donald Trump em 2016. Supostamente a mesma empresa teve envolvimento nas eleições de Bolsonaro no Brasil de 2018.

Vimos o caso de Edward Snowden, que revelou informações sigilosas de segurança dos Estados Unidos, detalhes de programas de vigilância que o país usa para espionar a população americana – utilizando servidores de empresas como Google, Apple e Facebook – e vários países da Europa e da América Latina, entre eles o Brasil, inclusive fazendo o monitoramento de conversas da presidente Dilma Rousseff com seus principais assessores.

No documentário da Netflix "The Social Dilema" vimos colaboradores das empresas que monopolizam o mercado tecnológico trazer a tona como eles jogam com as nossas informações. Obviamente não é novidade para nós muito do que se passa nesses programas, mas fica evidente que as mídias sociais têm como modelo de negócio manter as pessoas aprisionadas aos seus dispositivos, foram projetadas para gerar prazer e dependência e que seu objetivo é gastar o máximo do nosso tempo e atenção para assim manter vivo a engrenagem daquilo que é chamado capitalismo da vigilância, o capitalismo obtendo lucro pelo rastreamento infinito. Esse tema é muito amplo e pretendo aborda-lo em outro post.

Por último gostaria de citar um trecho do livro "Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais" por Jaron Lanier:

"Você já deve ter ouvido as confissões pesarosas dos fundadores de impérios de redes sociais, que prefiro chamar império de modificações de comportamento:

Com vocês Sean Parker, primeiro presidente do Facebook: Precisamos lhe dar uma pequena dose de dopamina de vez em quando, porque alguém deu like ou comentou em uma foto ou postagem, ou seja lá o que for (...) Isso é um circulo de feedback de validação social (...) exatamente o tipo de coisa que um hacker como eu inventaria, porque explora uma vulnerabilidade na psicologia humana (...) Os inventores, criadores - eu, Mark, Kevin Systrom no Instagram, todas essas pessoas - , tínhamos consciência disso. E fizemos isso mesmo assim (...) isso muda a relação de vocês como sociedade, uns com os outros (...) Só deus sabe o que as redes sociais estão fazendo com o cérebro dos nossos filhos".

Realidade:

Tudo que fazemos na "internet" está sendo assistido e rastreado, cada ação nossa é cuidadosamente monitorada e registrada. O que pensamos e fazemos, nossa localização geográfica, o livro que estamos lendo, nosso pensamento politico. É possível traçar um perfil psicológico, traçar previsões assertivas, eles nos conhecem melhor do que nós mesmo. O pior é que fornecemos todas essas pistas de graça. Nossas informações são alvos de governos com o discurso de combate ao crime, mas, na verdade, são usados para controle de dissidência política.

Tenhamos em mente que a "internet" se tornou um espaço totalitário onde poucos controlam as informações de muitos e que mesmo tendo "garantido" por lei a nossa privacidade, não devemos esperar que governos e corporações nos disponibilizem meios seguros de comunicação.

Ações:

Mesmo tendo a consciência de parte da realidade, eu também estava usando as ferramentas de comunicação e redes sociais de forma errada e não estava dando a real atenção para a minha privacidade.

Resolvi tomar uma atitude no auge da crise politica, acessão do governo de extrema-direita e agravamento da maior crise sanitária desse seculo. Dizem que grandes crises trazem grandes mudanças e para mim não foi diferente. O primeiro passo que dei for apagar por completo todas as minhas redes sociais, não foi fácil e hoje sou prova viva de que é possível ter relações sociais na "internet" sem estar em uma rede (de)social.

Precisava ir um pouco mais longe, então iniciei uma batalha para me livrar de todo o vínculo de aplicativos do Facebook e Google. No dia que publico esse artigo já data dois anos da exclusão dos meus perfil e cancelamento gradual e quase completa de todas as ferramentas do Google.

Alternativas:

Abaixo trago alternativas de "softwares" que uso no meu dia-a-dia e que trabalham com foco em privacidade e criptografia de dados:

Ubuntu Linux: Sistema operacional que representa o melhor do que a comunidade mundial de software tem compartilhado com o mundo. Ubuntu é uma antiga palavra africana que significa "humanidade para os outros".

LineageOS: Um sistema operacional de código aberto do tipo Custom ROM para smartphones e tablets, baseado na plataforma móvel Android, livre do vínculo com operadora e com o próprio Google.

F-Droid: F-Droid é um catálogo instalável de softwares de código livre e aberto (FOSS) para a plataforma Android. O aplicativo facilita a busca e a instalação, além ficar de olho nas atualizações no seu dispositivo.

Element: É um "software" livre de mensageiria instantâneas para texto, voz e vídeo, de código aberto, baseado no protocolo Matrix. Uma alternativa a aplicativos de comunicação como Telegram e WhatsApp. Nesse artigo eu abordo o uso dessa ferramenta.

Protonmail: Serviço de mensagem eletrônica Protonmail, é um sistema gratuito que protege as mensagens usando criptografia de ponta a ponta.

Tor: O Navegador isola cada website que você visita de modo que os rastreadores de terceiros e anúncios publicitários não podem seguir você. Todos os cookies, bem como os registros no seu histórico de navegação, são automaticamente apagados quando você fecha o navegador.

Firefox: Navegador "web" de código aberto, é também o único dos grandes navegadores a contar com o apoio de uma iniciativa sem fins lucrativos para proporcionar a você mais abertura, transparência e controle da sua vida "on-line". Possui a Proteção Aprimorada contra Rastreamento habilitada como padrão, bloqueando milhares de rastreadores de anúncios e "malware" irritantes, deixando sua experiência mais segura e rápida.

DuckDuckGo: Atualmente um dos principais mecanismos de busca e possui inúmeros recursos que visam a privacidade e a segurança dos dados de seus usuários. Segundo o site da plataforma, o mecanismo realiza quase 2 bilhões de buscas por mês e este número tende a aumentar. Uma alternativa ao famoso Google Search.

Mega: Serviço de armazenamento em nuvem centrado na segurança que oferece aos usuários uma excelente encriptação de ponta a ponta e um grande plano gratuito com toneladas de armazenamento gratuito.

Jitsi: Uma plataforma de teleconferência gratuita e open-source que permite combinar várias de suas facilidades (compartilhar tela, som, arquivos, silenciar participantes, etc.) para conversações via "internet".

CryptPad: É uma alternativa criptografada ao Google Docs de código aberto para a criação de documentos, planilhas, apresentações e muito mais. A melhor parte é que todos os documentos são criptografados.

DeepL Translator: É uma empresa de aprendizagem profunda que desenvolve sistemas de inteligência artificial para línguas, oferece um tradutor "online" que supera os tradutores do Google, Microsoft e Facebook.

OpenStreetMap: Plataforma para criar e disponibilizar dados geográficos gratuitos. Num espírito colaborativo, milhares de usuários de todo o mundo recolhem informação sobre estradas, edifícios, florestas, rios e muita outra informação habitualmente visível em mapas.

Conclusão:

Esses são alguns pequenos passos que estou dando em defesa da minha privacidade, pretendo que esse texto seja inspiração para aqueles que assim como eu anseiam por uma rede mais segura e livre .

Minha utopia é um mundo que seremos senhores dos nossos dados. Conforme diz Eduardo Galeano: "Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."

Seguimos caminhando. Que a força esteja com você.

Published Oct 09, 2021 by f0rmig4